Oi gente!
Segue breve comentário da Ana Maria Veiga, jornalista e doutoranda em história, sobre o beijo da novela.
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Na semana seguinte à aprovação da união civil de casais homoafetivos, o SBT (quem diria…) colocava em cena o primeiro beijo entre pessoas do mesmo sexo exibido pela televisão brasileira, na novela Amor e Revolução, que tem como tema as barbaridades da repressão militar durante a ditadura brasileira. Duas mulheres, jornalistas, sem aparência masculinizada, se enroscavam em um beijo quase convincente – não fosse a volta do batom vermelho à boca de uma delas no final da cena. Bem, parabéns! Já era tempo de se tratar com um minimo de naturalidade um assunto tão corriqueiro ao nosso redor.
O que me deixou estupefata, no dia seguinte, foram os comentários sobre o tema na sequência da matéria publicada pelo site que eu uso (Yahoo). Caça às bruxas era pouco para as manifestações homofóbicas, evangélicas, hipócritas. Depois do último censo registrar cerca de 60.000 famílias homoafetivas (fora as outras tantas que devem ter preferido continuar no armário), uma parte moralista da sociedade ainda quer abafar essa existência, empurrando desejos, amor, sexo, famílias inteiras (inclusive com filhos) pra debaixo do tapete social já tão puído.
Um dia flagrei um primo mais velho, já com seus 60 anos de idade, tentando espiar o pênis de um cara sarado na capa de uma revista gay. Fiquei na minha, em respeito à decisão dele de se manter como o pai/provedor de uma linda família. A mulher, é claro, nem sonha com essa possibilidade. Ele, de certo, deve ter encontrado um meio secreto de extravasar seus desejos ocultos.
Um tempo depois, dei de cara com o marido de uma antiga colega de trabalho flertando com um jovem que saía de uma sessão de cinema num shopping. Ele também, bem casado, com filhos já adultos. Resumindo, em que tipo de sociedade nós vivemos? De um lado, igrejas evangélicas que tentam “reformar” os homossexuais, impondo a eles um personagem distante daquilo que são; de outro a igreja católica, cujos casos de pedofilia e desejos (homo)sexuais não cessam de vir a público. Entre estes dois pólos, milhares de famílias que se negam a enxergar a realidade de seus filhos e filhas, pais e mães, além de outros parentes próximos.
Se as pessoas se importassem com seus próprios recalques e não dessem tanta importância às janelas dos vizinhos, tudo não poderia ser mais simples? Por fim, não quero retribuir a raiva nem entrar neste clima já falido de pudicismo e falsa moral. O fato é que nós existimos, amamos, trabalhamos, pagamos nossas contas e até rezamos de vez em quando. Então gente, na boa, façam tudo para serem FELIZES! A tolerância às diferenças ainda é um aprendizado social que está longe de se concluir.
Ana Veiga