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E aí, você está preparada?

7 fev

Tomar a decisão de engravidar, ter ou não ter um filho sempre leva a essa pergunta, “E aí, será que estamos preparados para sermos pais?”

Mas para mim a pergunta é outra, qual é a preparação possível para uma situação tão radical? Que inevitavelmente vai mudar tudo.

Inventaram curso para gestantes e casais grávidos, fizerem você trocar a fralda e dar banho em um boneco, escreveram livros cheios de fórmulas infalíveis, fizerem filmes sobre parto, sem contatar os intermináveis fóruns e grupos no Facebook.

Então estar preparada significa apropriar-se do conhecimento produzido sobre o tema?

Não apenas isso, você precisa comprar um monte de parafernálias que inventaram, parar de comer um monte de coisas, passar a comer um monte de outras, deixar o quarto do bebê pronto até o 5º mês, fazer o chá de fraldas até o 7º, estar como a mala da maternidade pronta na 34ª semana, fazer um book da barriga no 8º mês, e claro, basicamente ter tudo planejado na sua cabeça, desde o plano de parto até que escola seu filho vai estudar no ensino médio.

Não fiz o curso para gestantes. Nunca troquei uma fralda na vida, muito menos dei banho num bebê. Ganhei vários livros que dou uma foliada, mas não leio com seriedade. Entrei em 2 fóruns mas não me envolvo. Decidi não assistir esses filmes de parto. Comi sushi a gestação toda, sem abusos mas comi. Tentei inúmeras vezes fazer um planejamento mas não consegui, porque como vou planejar uma coisa que não faço a menor ideia de como será? Quero ser surpreendida pela experiência de ser mãe (será que estou virando hippie??? nãooooo!!!!!) e tentar planejar tudo tiraria de mim essa possibilidade. Além do que a chance do planejamento dar todo errado é gigantesca, o que geraria uma enorme frustração, porque eu não tenho experiência e vivência nenhuma no assunto para fazer um bom planejamento.

E todos esses recursos não me preparariam para ser mãe, eles tem uma única finalidade, buscar reduzir a ansiedade gerada pelo enfrentamento do desconhecido. Minha decisão de não fazer todas essas coisas não foi pensada, simplesmente aconteceu, não tive vontade, nada disso me mobilizava. Mas a minha ansiedade foi muito bem trabalhada (na comida). Tomei muito frozzen capuccino depois das sessões de análise, comi vários pastéis depois da drenagem linfática, me deliciei com pães de queijo após fortalecer a lombar com fisioterapia. Achei outras válvulas de escape para a ansiedade, mais gostosas!!! Se eu tivesse habilidades manuais acho que iria tricotar e bordar coisinhas pro bebê, deve ser ótimo para a ansiedade, além de não ganhar peso.

Depois de pensar tanto sobre estar ou não preparada, concluí que a única preparação possível é o desejo, ter vontade de ser mãe, estar com a energia mobilizada para isso. Esse envolvimento é um processo, vai acontecendo durante a gestação, também por isso ela dura nove meses, é um bom tempo para você ir trabalhando com o desejo. Mas antes de engravidar esse desejo deve existir em algum lugar, para com o tempo da gravidez ele ir se consolidando.

E por isso ninguém deveria ser obrigada a ser mãe, se por um acaso da vida uma mulher engravidou ela deve ter garantido o direito sobre seu desejo, e sobre seu corpo. Quando obrigam uma mulher a manter a gestação tiram dela o fundamental para a experiência da maternidade, que é o direito de escolha de ser ou não ser mãe, e em nome de um futuro bebê arrancam dele o direito de ser desejado.