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Propaganda política para mulheres

10 set

Tenho deixado a televisão ligada durante a propaganda eleitoral.

Bom, eu sei que não deveria esperar muito ou nada dessas propagandas, mas acabo ficando assustada com os discursos voltados às mulheres, em diferentes partidos. Reproduzem-se estereótipos de uma divisão social muito marcada das funções masculinas e femininas, e as questões voltadas à família são postas como questõeas das mulheres, como se apenas elas fossem responsáveis pelas questões familiares. Algo como “Pra você mulher, me comprometo a aumentar os números e vagas nas creches” ou “Preocupando-se com as mulheres venho oferecer apoio aos idosos”. De maneira geral essas são questões das quais as mulheres se responsabilizam sim nas famílias, mas fico me perguntando sobre o que os setores femininos dos partidos, quando fazem encontros e discussões sobre as questões das mulheres, discutem. Esse tipo de discurso vai inclusive  na contramão das discussões dos partidos que são impressas e divulgadas no que se refere às mulheres. Ou quem sabe as propagandas vão numa linha meio William Bonner, que acredita que as pessoas são fechadas e estúpidas e então é necessário falar com elas como se muito pouco conseguissem entender, e aí as discussões mais feministas que ocorrem nos partidos não fariam sentido.

Pois bem, como feminista, só queria colocar que creche não é problema das mulheres, é problema das famílias, assim como os trabalhos de cuidados com idosos. Se historicamente esses trabalhos vem sendo desempenhados por mulheres, e se nas últimas cinco décadas, com sua larga inserção no mercado de trabalho, tem se traduzido como duplas ou triplas jornadas, este é um problema das nossas sociedades que precisa ser problematizado e revisto, não remediado com instituições públicas sem a devida discussão da questão.

Aliás, tive contato com uma discussão que achei interessante, que de certa forma questiona a radicalidade da luta por creches. Não há dúvida de que serviços coletivos de cuidados são necessários para que as famílias possam conciliar o trabalho dentro e fora de casa. Mas as creches, como estão postas para nós, em nada questionam a divisão de trabalho nos lares. Ou seja, não há nada de feminista na demanda da creche em si, ainda mais quando a responsabilidade de encontrar uma boa cheche, levar e pegar a criança nela, é apenas das mães. Ou quando não se aceitam, ou se tratam com extrema desconfiança, homens que trabalham com educação infantil. Mas essa já é outra discussão..

soraia.